4º domingo da quaresma – Domingo da Alegria

Tanto no Tempo da Quaresma como no Tempo do Advento, há um domingo especial, onde a Igreja dá uma pausa na austeridade e sente, antecipadamente, a alegria do que vai celebrar – na Quaresma o domingo é o 4º, chamado de “Domingo Laetare”, antecipando a alegria da Páscoa, já no Tempo do Advento é o 3º, chamado “Domingo Gaudete”, e que antecipa a alegria do Natal do Senhor.

Neste 4º domingo da Quaresma, celebramos o Domingo da alegria, testemunhamos a misericórdia sem limites do Pai, que aguarda nossa conversão, o nosso retorno para nos acolher em seu infinito amor. É tempo de reconciliação, de sentir a Páscoa do Senhor que se aproxima, para tudo transformar!

Somos convocados a celebrar a alegria de um Pai que reencontra o filho que havia se perdido e a alegria desse filho que retorna para junto de seu pai. A antífona de entrada deste Domingo, diz que essa alegria é recíproca, nossa e de Deus. Nossa, porque, embora esbanjadores e desprezadores das graças, das bênçãos e do amor somos, de novo, recebidos de volta nos braços e na casa do Pai. Dele, porque nós, que, a exemplo do Filho pródigo, estávamos mortos, perdidos fomos encontrados, voltamos à sua casa, à vida

A Igreja interrompe sua tristeza quaresmal, os cantos da Missa não falam de nada além de alegria e consolo e se permite substituir os paramentos roxos pelos de cor rosa. A motivação da Igreja para introduzir essa expressão na alegria da Liturgia de hoje é encorajar seus filhos a perseverar fervorosamente até o final deste santo tempo. A Igreja, temendo que a alegria pudesse levar a alguma violação do espírito de penitência, adiou sua própria atenção para este domingo, quando ela não apenas permite, mas até mesmo pede que seus filhos se alegrem!

A nossa vida, desde sempre, é marcada pela busca da felicidade; mendigamos a todo tempo a boa realização de nossa vida e a expressão mais forte dessa realização é a alegria, o contentamento por estar bem. Contudo, nos perdemos em meio ao vendaval de tantos caminhos que nos são propostos, a toda hora e em todo canto.

Jesus, com sua vida e morte, nos mostrou que só encontramos a fonte de nossa perfeita alegria no serviço à vida. É isto também que nos diz o Papa Francisco: “...Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, não se ouve a voz de Deus, não se goza da doce alegria do seu amor nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem...” (Papa Francisco, A alegria do Evangelho, 2).

Como franciscanos sabemos e conhecemos o texto de São Francisco e Frei Leão, ‘Da perfeita alegria”, que nos leva a repensar nosso modo de estar na vida: ao contrário de viver a ilusão de encontrar nossa glória nas alturas, sonhando por um mundo encantado de alegrias desencarnadas da realidade que nos cerca, fazermos o caminho inverso. É necessário descer em nossa pobreza e fraqueza para encontrar a fonte da alegria no serviço humilde. São Francisco de Assis, “homem alegre e livre” pôde cantar a Perfeita Alegria porque chegou às profundezas do seu nada e, no chão nu da pobreza total, descobriu a verdadeira riqueza que se esconde em Deus. Por isso canta a alegria, mesmo em compassos de dor e de sofrimento.

Para Francisco a perfeita alegria não consiste nem na santidade, nem no saber e conhecer. Muito menos na capacidade de fazer milagres, de falar e entender línguas. Nem no poder de penetrar as consciências. “De que, então, podes gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda a espécie de línguas, perscrutares engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais coisas celestiais e ainda agora conhece mais da terra do que todos os homens juntos.

A alegria é dom do Senhor. Somente floresce lá onde habita o Espírito do Senhor. E Francisco deixa-nos um ensinamento luminoso: “Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem espírito do Senhor: se Deus por meio dele operar alguma obra e ele não atribuir a si”. Francisco pôde cantar a PERFEITA ALEGRIA porque, no mais profundo de si mesmo, encontrou Deus, razão última e total da felicidade do homem. E eu? E você? E nós? Cantamos a perfeita alegria, ou seja, encontramos Deus, razão última e total da nossa felicidade?

Irmã Claudenice Aparecida Sabadin, FCM
Assistente Espiritual Nacional

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Texto: Irmã Claudenice Aparecida Sabadin
Imagem: Luís Henrique Alves Pinto

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