Colegiado de Assistência Espiritual lança Carta Pascal à Jufra do Brasil
Queridos
irmãos e irmãs jufristas de todo o nosso Brasil,
Que o Senhor lhes dê a sua paz!
Nestes dias a novidade despertada pelo mistério pascal
toma conta da Igreja e nos envolve profundamente de modo a fazer nascer em nós
uma vida renovada e alegre! O Senhor, pela boca do profeta Isaías (43,19),
assim anuncia e questiona: “Eis que farei uma coisa nova, ela já vem
despontando: não a percebeis?” Com toda certeza, todos nós, de alguma forma,
desde que as águas de março tocaram
nossos pés e refrescaram de dentro para fora o vigor da nossa juventude
franciscana fomos surpreendidos pela bela novidade dos irmãos e irmãs que
chegaram assumindo o serviço no Secretariado Fraterno Nacional. Também em igual
modo rendemos profunda gratidão aos irmãos que se despediam de um trabalho tão
admirável já realizado e das ricas partilhas de caminhada enquanto JUFRA
NACIONAL.
Quando o profeta Isaías nos pergunta sobre a
habilidade de perceber as coisas novas, coloca-nos diante da importante
consideração: Nada poderá se fazer novo em nós se de antemão não nos houver a
sensibilidade e docilidade para sentir o suave e constante toque do mistério
que a tudo faz viver em plenitude pela força da Ressurreição. A sensibilidade e
a docilidade são como as janelas de uma casa: a luz do sol, embora seja intensa
e envolva a casa por fora, só poderá visitar e iluminar todos os cômodos da construção, se as janelas e portas estiverem
escancaradas. Volta-nos à memória o apelo forte de São João Paulo II no início
de seu pontificado em 1978: “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir,
melhor, escancarar as portas a Cristo!” É perigoso deixar entrar ou dar o
primeiro lugar de nossas vidas a qualquer outra coisa ou pessoa que não seja o Cristo!
Do contrário, nascerá em nós a triste fragmentação de uma felicidade estéril e
incompleta.
A atitude de ser sensível e dócil a Cristo e à sua
novidade não nasce em nossa capacidade racional, nas nossas ideias, opiniões, habilidades
técnicas, formação profissional ou cultural. Ser “escancarado (a) ” a Cristo é
questão de coração, e sobre isto nós temos o privilégio de ter entre nós a
chama viva e presente de um dos maiores peritos em humanidade e experiência do
coração, depois de Jesus: o pobrezinho Francisco
de Assis. Para o nosso Seráfico Pai, qualquer empenho, obra ou projeto que
não nascesse do coração atingido pelo “Amor não amado”, o Pobre Crucificado,
era demasiado frio e vão. Permitamos, portanto, que ele mesmo nos fale: “Inclinai o ouvido de vosso coração e
obedecei à voz do Filho de Deus. Guardai em vosso coração os seus mandamentos e
cumpri os seus conselhos com a mente perfeita. Proclamai-o, pois ele é bom, e
exaltai-o em vossas obras; pois, com este intuito ele vos enviou por todo o
mundo, para que, por palavras e obras, deis testemunho de sua voz e anuncieis a
todos que não há ninguém além dele” (CO. 6-9).
No deserto do mundo, de onde poderia brotar a água que
a tudo reanima? No meio das guerras declaradas ou mascaradas, de onde poderia
vir a verdadeira paz? Entre os tantos semelhantes nossos engolidos pelo
consumo, pela solidão, pelos emaranhados de uma vida virtualizada e distante,
de onde poderia vir o sentido da vida que lhes preencheria a ponto de fazer
brilhar seus olhos e sorrir seus lábios? No meio da fome do pão do diálogo e do
sincero afeto, de onde poderia se construir a fraternidade? No meio da fumaça,
da lama, da poluição, de onde poderia vir a restauração daquele belo jardim que
nos foi dado de presente no início de tudo? Irmãos, no meio da morte, de onde
se poderia vir a Ressurreição?
Não poderíamos ter dúvidas de que o Senhor respondeu a
todas estas difíceis perguntas no dia em que Ele, pelo seu Santo Espírito depositou
em nossas frágeis vidas o dom do Carisma
Franciscano. Este é o nosso caminho de conversão íntima e pessoal; este é o
nosso modo louco de mudar o mundo “normal”; esta é a nossa vida de santidade; este
é, por excelência, o nosso caminho para o céu! O nosso carisma
é a vontade de Deus, é o Santo Evangelho a ser lido nas páginas de nossas vidas,
sem medo da radicalidade ou do arriscar-se! É Ele quem chama e envia, e isso basta!
Agora podemos entender o motivo pelo qual Francisco não hesita em pedir como lembrávamos
acima: “Inclinai o ouvido de vosso
coração; obedecei à voz; guardai em vosso coração; cumpri os seus conselhos; proclamai-o; exaltai-o; deis testemunho; e
anuncieis”. Notemos a intensidade destes verbos! Tenhamos a certeza de que
aí escondido está o profundo gesto de cuidado do nosso Pai Francisco ao nos
dizer: é por aqui que se vai meus filhinhos, é por aqui! Não se afastem de seu
carisma, nele está a Vida Nova!
A mais potente forma de Ressurreição e a que de fato
importa é aquela que vem depois de uma total doação de vida pelo carisma, pelo
ideal, pela causa do Evangelho. O Santo Padre, o Papa Francisco, no frescor de
sua nova Exortação Apostólica Christus
vivit nos lembra que o “Senhor «entregou o seu espírito» (Mt 27,50)
numa cruz, quando tinha pouco mais de 30 anos de idade (cf. Lc 3,23).
É importante tomar consciência de que Jesus foi um jovem. Deu a sua vida numa
fase que hoje se define como a dum jovem adulto. Em plena juventude, começou a
sua missão pública e, assim, brilhou «uma grande luz» (Mt 4,16),
sobretudo quando levou até ao extremo o dom da sua vida. Esse final não foi
improvisado, mas teve uma preciosa preparação em toda a sua juventude, em cada
um dos seus momentos, porque «tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério»
e «toda a vida de Cristo é mistério de redenção»” (23).
Este é o nosso grande desejo para esta Páscoa,
caríssimas irmãs e irmãos Jufristas: que o primeiro (e o mais
fundamental) passo rumo à revolução franciscana seja o de transformar-nos
verdadeiramente em amantes do Carisma que
recebemos. Isto é, viver o Santo
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, pobre e crucificado. Garante-nos o
próprio Evangelho, se esta for nossa primeira e maior preocupação, tudo mais virá por acréscimo (Mt 6,33). Permita-se
se fazer sensível a esta verdade! Ela liberta a fraternidade de ser uma mera
reunião de pessoas com ideias diversas e conflituosas; ela liberta o diálogo de
ser uma troca egoísta de farpas que ferem a tão sonhada minoridade; ela liberta
o silêncio da vida de oração de ser rejeitado em nome de palavras vazias e
numerosas; ela liberta o compromisso com o respeito acima de tudo de ser
denegrido pelas avassaladoras “fake News”;
ela liberta o amor pelos pobres por causa de Cristo de ser confundido como
razão para a incitação à violência e ao ódio; ela liberta a Vida de ser um
barato produto de sobrevivência a preço de mercado.
No fundo, descobrimos que a Páscoa é fruto de um longo
caminho de reconstrução da nossa Igrejinha em ruínas. A graça de Deus se
encontra e se casa com nosso profundo desejo de servi-lo. Daí nasce a
reconstrução, a ressurreição de Cristo em nós. Cada irmãos e irmã jufrista deste
Brasil é um tijolo único e insubstituível aos olhos do Pai das Misericórdias.
Ele nos deu uns aos outros, e não foi por acaso, antes, quis a Divina
Providência que estivéssemos lado a lado e de mãos dadas lembrando-nos uns aos
outros que Cristo “está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te
possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti
para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os
medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a
força e a esperança” (Christus vivit, 2). Ele vive e não nos abandona porque seu
nome é AMOR!
Feliz e Santa Páscoa!
Paz e Bem!
Solenidade da Páscoa do Senhor – 2019
Frei Henrique Ferreira dos Santos, OFMCap
Irmã Viviane Ramos da Costa, FDM
Frei Túlio de Oliveira Freitas, OFM
Assistentes Espirituais Nacionais
da Juventude Franciscana do Brasil
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