Clara e Francisco, dois enamorados... de um único Senhor!


Carissimas irmãs e carissimos irmãos da JuFra do Brasil, Paz e Bem!


O nosso caro irmão Thiago, formulou-me o convite de partilhar convosco duas linhas sobre a nossa Irmã e mãe Clara de Assis e a sua relação com o nosso Irmão de Assis, o Frei Francisco. Aceitei de bom agrado fazê-lo esperando que seja útil para o vosso caminho. Desde já agradeço a simpatia fraterna de muitos de vós a meu respeito. Deus vos abençoe na sua paz e no seu bem!


Muito, longo os séculos, já se escreveu e se disse sobre a figura singular de Clara e da sua relação com Francisco. Portanto, não direi nada de novo ou de melhor.


Não se pode pensar em compreender a figura de Francisco com toda a sua novidade evangélica sem associar à sua vida e à sua história Clara de Assis, sua conterrânea e, como a chamam, a “plantazinha” de Francisco. Clara é efetivamente e afetivamente o rosto feminino do franciscanismo e, como tal, é parte integrante e íntimo de um único projeto de vida evangélica. Clara e Francisco são dois lados de uma única moeda.


Tornou-se, entretanto, comum pensar a relação entre Clara e Francisco em termos do amor humano, de romantismo. De fato, dos muitos livros e filmes que retratam o encontro extraordinário entre estes dois filhos de Assis, poucos conseguiram evitar o cedimento a esta redutora tentação romancista.


Para o famoso escritor italiano Francesco Aberoni, por exemplo, “a relação entre Santa Clara e São Francisco tem todas as características de um enamoramento transferido ao divino” (Enamoramento e amor, Rio de Janeiro, Rocco, 1986).


Na minha opinião, a relação entre Clara e Francisco era certamente muito forte, inclusive do ponto de vista humano. Era uma relação paternal e filial. Porém, não era certamente de tipo erótico e conjugal. Francisco chamava a Clara de “plantazinha” e esta a Francisco de “nosso pai”.


Apraz-me muito pensar a estes dois “jograis” de Deus como, efetivamente, dois enamorados. Não enamorados um do outro, mas enamorados cegamente de Cristo crucificado e ressuscitado. Naturalmente foram um para o outro um constante e importante ponto de referência. Me é muito simpática a ideia de que é junto à Clara que Francisco entoa o “Cântico do Irmão Sol e da Irmã Lua” e que é a ela que se inspira para o maravilhoso verso à “irmã água” que é “útil e humilde e preciosa e casta”.


Partindo de uma célebre frase de Antoine de Saint Exupery que diz: “amar-se não significa fixar-se um ao outro, mas fixar juntos a mesma direção”, o Frei Raniero Cantalamessa, capuchinho e pregador da Casa Pontifícia, numa sua belíssima recensão do Filme “Francesco e Clara” do realizador Fabrizio Costa (2007), (filme muito interessante e fortemente recomendável) mostra como de fato Clara e Francisco não passaram as suas vidas em Assis fixados um ao outro, mas eram como dois olhos que fixam com alegria a mesma direcção.


Dois olhos não no sentido de um olho multiplicado por dois, mas dois olhos que olham para a mesma realidade mas de ângulos e prospectivas diferentes conseguindo assim uma maior percepção da realidade observada. Eis porque o nosso carisma é abrangente e não exclusivista.


Clara e Francisco olharam fixos para o mesmo e único Deus, para o mesmo Senhor Jesus Cristo, para o mesmo Crucifixo, para a mesma Eucaristia, mas sempre de ângulos diferentes, com os dons e sensibilidades de cada um. É assim que juntos, qual dois olhos, acolheram muito mais de quanto podia acolher dois Franciscos ou duas Claras.


Caros Jovens, num tempo fortemente marcado pelo hedonismo, pornografia e egoísmo re-evocar a relação entre estes dois santos, fundadores do franciscanismo, reveste-se de peculiar importância. Francisco e Clara são um exemplo de como um homem e uma mulher podem estar unidos mantendo uma total pureza, longe de todo o hedonismo, pornografia e egoísmo. Francisco e Clara viveram totalmente unidos porque totalmente livres e se fizeram totalmente dons um ao outro porque totalmente oferecidos a Cristo e aos irmãos.


Queria terminar esta curta partilha convosco com uma belíssima imagem inicial do, já citado, filme “Francesco e Chiara” que muito me edificou: Francisco caminha num prado, Clara o segue colocando os seus pés sobre as pegadas de Francisco. A um certo ponto Francisco vira-se e pergunta a Clara: ‘Estás a seguir os meus passos?’ Clara responde: ‘Não, sigo passos mais profundos’.


Penso que também nós, jovens do terceiro milénio, apaixonados pelos ideais evangélicos vividos por Francisco e Clara devemos colocar os nossos passos sobre as suas pegadas convencidos fortemente que estamos a seguir “passos mais profundos”, passos do Nosso Senhor Jesus Cristo, passos que tanto Clara como Francisco seguiram com ardor na simplicidade, na alegria, na paz e no bem. Portanto, olhando para atrás , caros jovens, não nos limitamos a fixar Francisco e Clara mas mantenhamos os nossos olhos fixos em Jesus Cristo. Porém fixamos Jesus Cristo com os olhos e o jeito de Francisco e de Clara.


Hoje, somos convidados a sermos no nosso meio os novos Franciscos e as novas Claras para construirmos novamente a fraternidade universal. Eu topo e TÚ?



Frei Gilson Frede, Capuchinho.

Frade de Cabo Verde, foi vice-presidente

Nacional da JUFRA de Cabo Verde,

hoje está em Roma/ITA em

preparação para sua ordenação.

http://poco-da-palavra.blogspot.com

www.youtube.com/freifrede

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