Um Encontro para recordar: O Encontro Celebrativo dos 40 anos da Juventude Franciscana do Brasil um ano depois


40 anos de caminhada da Juventude Franciscana (JUFRA) do Brasil
Um olhar a partir do Encontro Celebrativo na ótica da Vida e da Bíblia

A Vida e a Bíblia estão repletas de situações e elementos simbólicos que nos dão identidade e preservam a memória da caminhada do Povo de Deus. Cores, comidas, bebidas, cheiros, gestos, ritos, números, músicas, rimas, narrações, tamanhos, aparições, dentre outros, são sinais sensíveis aos nossos sentidos, para nos revelar “concretamente” aquilo que acreditamos e enxergamos “espiritualmente”.

Os símbolos não falam “em si”, não são apenas “coisas”, mas exigem de nós comunicação, relação, ligação. É um processo dependente da intensidade e da intenção de quem faz o gesto, do ouvido de quem ouve, do olhar de quem olha, da pele de quem é tocado, de quem dá, acolhe, entra em sintonia, vivencia... Por isso, não é tão fácil falar ou escrever sobre os símbolos. Depende da experiência, da fé e da vida!

Neste texto procuraremos refletir, aberto a outros olhares e perspectivas, sobre o Encontro Celebrativo Nacional pelos 40 anos de caminhada da Juventude Franciscana (JUFRA) do Brasil, realizado de 28 a 30 de outubro de 2011, em Guaratinguetá-SP e Aparecida-SP.

Por decisão do Secretariado Fraterno Nacional da JUFRA do Brasil, este Encontro não seria apenas uma “celebração”, muito menos um simples aniversário que constataria que a JUFRA do Brasil está mais velha, não, mas sim, e sobretudo, seria uma oportunidade única de rever os passos dados, fortalecer a graça da unidade na diversidade – sem banalizar esta expressão tão presente na boca dos que defendem a uniformidade – proporcionar a convivência de jufristas de todo o Brasil, abrir-se solidariamente aos sinais dos tempos e dos lugares, acolher sensivelmente os apelos do Espírito, comprometer-se com a construção do Reino, projeto de Jesus, meta e fim último da JUFRA.

Houve, portanto, toda uma preocupação em recuperar o conhecimento da experiência dos primeiros/as jovens brasileiros/as que, a partir dos passos de Francisco de Assis, toparam abrir novos caminhos para a juventude do Brasil. Documentos, fotos, textos, livretos, depoimentos, vídeos, objetos, muita coisa foi sendo resgatada e trazida à tona. Fortaleceu-se assim a consciência do processo histórica da JUFRA do Brasil, uma caminhada a ser revisitada.“Todo o discípulo do Reino é como um pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas.” (Mt 13,52)

Junto a isso, proponho acrescentarmos outras caminhadas e processos em torno dos 40”. Durante quarenta dias e quarenta noites choveu sobre a terra nos tempos de Noé (Gn 7,12), e em seguida desabrocha a Vida, em nova criação (Gn 8, 1-22)... Aos quarenta anos casou-se Isaac, com sua esposa Rebeca, (Gn 25,20) e em seguida nascem milagrosamente Esaú e Jacó (Gn 25, 21-26)... Aos quarenta anos Moisés desejou voltar ao seu povo hebreu oprimido (At 7,23), e em seguida, quarenta anos depois, lhe apareceu Javé em meio à sarça ardente, propondo-lhe a libertação do Povo (Ex 7,30-36)... Quarenta anos durou a marcha do povo hebreu pelo deserto (Ex 18,35), e em seguida conquista a Terra Prometida, terra onde corre leite e mel (Ex 3,8)... Durante quarenta dias e quarenta noites, Moisés retira-se no alto do Monte Sinai (Ex 24,18), e em seguida recebe as tábuas da Aliança, de Vida e de Justiça (Ex 31,18)... Quarenta dias e quarenta noites Elias caminhou por meio da força do alimento divino até o Horeb, a montanha de Deus (1Rs 19,8), e em seguida Javé conversa com ele numa brisa suave (1Rs 19,12-13)... Quarenta dias de penitência fizeram todos os moradores/as de Nínive, alertada pela firme pregação do profeta Jonas (Jn 3,5-9), e em seguida, convertida, toda a cidade é livrada do mal (Jn 3,10)... Quarenta dias e quarenta noites jejuou Jesus Cristo no deserto, superando as tentações (Mt 4,2), e em seguida, cheio do Espírito, volta para a Galileia e Nazaré, onde proclama o Evangelho aos pobres, libertação aos presos e oprimidos e vista aos cegos (Mt 4,14-21)... Durante quarenta dias, após a sua Paixão, Jesus Ressuscitado, apareceu aos discípulos e discípulas para falar-lhes da Missão a ser continuada (At 1-3) e promete-lhes o Espírito Santo para tornarem-se testemunhas do Reino (At 1-8)...

Em torno do número quarenta, o Povo de Deus foi construindo sua história e sua caminhada. Este número representa o tempo necessário para que algo de muito importante possa ser realizado, como pudemos notar nos trechos bíblicos citados acima. Biblicamente, finalizar uma travessia que dure 40 dias ou 40 anos significa que, interior e exteriormente, determinada pessoa, grupo ou povo está pronto para uma grande missão, difícil, porém libertadora, profética e salvífica.

Como sabemos, os egípcios acreditavam na vida após a morte com o mesmo corpo desta vida temporal, e por isso embalsamavam os corpos dos mortos, junto com seus pertences para que, em glória, o finado continuasse a viver do mesmo modo que reinava neste mundo. O processo de embalsamento costumava durar quarenta dias, como verificamos em Gn 50,2-3, na morte de Jacó, pai de José do Egito. Provavelmente, deve-se a essa crença e a esse processo, a herança da simbologia do número quarenta.

Pois bem, há quarenta anos já caminha oficialmente a JUFRA do Brasil, desde a nomeação da 1ª Secretária Nacional, a jovem de Ponta Grossa-PR, Ivone Barszcz, em 1971. E na oportunidade de celebrar esta caminhada de quarenta anos, a reflexão vem sendo realizada a partir do tema: “JUFRA do Brasil: 40 anos, construindo o Reino nos caminhos da História”.

Todo um processo de doação coletiva e individual foi sendo realizado, desde o 14º Congresso Nacional da JUFRA do Brasil, de 12 a 16 de fevereiro de 2010, em Mossoró-RN, e com o empenho do Secretariado Fraterno Nacional, tantos os membros eleitos/as para a diretoria, quanto os nomeados/as para os serviços.

Reuniões presenciais e on-line da Equipe central, formação de equipes de trabalho, contatos com as Fraternidades Regionais e Locais, visitas a Guaratinguetá-SP e a Aparecida-SP, conversas e negociações interna e externamente, envio de ofícios e cartas, produção de textos, Hino e vídeos de divulgação, elaboração de projetos e programações, peregrinação dos estandartes de Santa Rosa de Viterbo por todo o Brasil... e preocupações, angústias, medos, conflitos, desesperos... mas “Aqueles que confiam em Javé são como o monte Sião: nunca se abala, está firme para sempre.” (Sl 125(124),1)

Todo este processo culminou com o Grande Encontro, de 28 a 30 de outubro de 2011, em Guaratinguetá-SP, reunindo mais de 200 jovens jufristas de todo o Brasil, franciscanos/as seculares, religiosos e religiosas. Alguns dias antes do Encontro, mais de 30 sites de todo o mundo publicaram e divulgaram esta atividade! Foi uma grande festa, todos e todas presentes se encontrando, abraçando-se e acolhendo mutuamente, formando uma só Fraternidade nacional! “Quando Javé mudou a sorte de Sião, parecíamos sonhar: a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de canções. Até entre as nações se comentava: ‘Javé foi grande com eles!’” (Sl 126(125),1-2).

E na sexta-feira, 28/10, o povo foi se juntando em círculo, à noite, rodeado de grandes árvores e de um imenso templo estrelar, nos jardins do Convento Nossa Senhora das Graças, acendia suas velas coloridas no grande Círio e, em caminhada, iniciava a Celebração Eucarística, abrindo este momento novo para a JUFRA do Brasil. “Sim, Javé foi grande conosco, e por isso estamos alegres!” (Sl 126(125),3). Seguiu-se com um Convívio Fraterno, com exibição dos vídeos trazidos pelos Regionais e partilha de comida e bebida.

Já no sábado, 29/10, a manhã iniciou-se com uma caminhada até a Escola Estadual Dr. Flamínio Lessa, onde foi formada uma mesa redonda com ex-secretários/as nacionais. Ivone, Lourdinha, Edson, Hoberdam, Jackson e Alex nos impressionaram partilhando experiências, perspectivas e caminhos percorridos. E à tarde, os participantes distribuídos/as em oficinas, foram debatidos e vivenciados algumas temáticas, como: Ação missionária; Metodologia de reuniões e encontros para Fraternidades Locais; Cantos franciscanos e artes; Juventude e justiça ambiental; O lúdico na formação da infância, micro e mini-franciscanos; Dimensão contemplativa e mística do jovem franciscano secular. “Vejam como é bom, como é agradável os irmãos viverem unidos.” (Sl 133(132),1). A tarde foi finalizada com mais uma mesa-redonda, desta vez com Antônio, ministro nacional da Ordem Franciscana Secular (OFS) do Brasil, e alguns dos conselheiros e conselheiras internacionais da JUFRA, Ana (da Croácia, e conselheira internacional), Jackson (do Brasil, e conselheiro para a América do Sul), Carlos (da Nicarágua, e conselheiro para a América Central) e Lovró (conselheiro para a Europa).

À noite, foi realizada a Festa dos 40 anos, com apresentação de vídeos retratando cada uma das décadas da JUFRA do Brasil, com fotos, músicas e atividades de cada época. Como foi emocionante percorrer esse caminho através do audiovisual! Logo após, os Regionais apresentaram as atrações culturais de suas regiões! Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste partilharam danças, histórias, músicas, sabores e afetos. E ao som do Negro Nagô e da Ciranda de Lia, uma intensa chuva caiu sobre a cidade, abençoado toda esta caminhada de 40 anos! “De fato, quando uma terra embebida de chuva abundante produz plantas úteis para quem a cultiva, essa terra tem a benção de Deus.” (Hb 6,7) A Festa foi sendo encerrada com bolo de aniversário, parabéns, doces, salgados e bebidas, até 01h da manhã! E a chuva continuava...

Ao amanhecer do Domingo, Dia do Senhor e Dia Nacional da Juventude (DNJ), 28/10, os/as participantes foram distribuídos em oito subgrupos para debater a relação e participação da JUFRA com a Juventude, na Igreja, na Família Franciscana e na Sociedade. As discussões foram impressionantes! Ponto a ponto discutidos, debatidos, sistematizados e reunidos na intitulada “Carta de Guaratinguetá – A JUFRA que queremos ser!”, um documento pastoral, de estilo programático e profético! Em seguida fomos, romeiros e romeiras, ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde celebrou-se a Eucaristia, presidida pelo Secretário Geral da CNBB, o bispo franciscano Leonardo. Após a partilha do almoço, no bosque, aos pés do Santuário, foi anunciada oficialmente a Carta elaborada no Encontro, e o Assistente Espiritual Nacional, Frei Miguel, conduziu a Oração e Bênção de Envio, onde cada Regional presente recebeu uma vela acesa, preparada pelas Irmãs Clarissas, de Mossoró-RN, para que a chama do espírito dos 40 anos caminhados, e todos os momentos vividos no Encontro, continuem iluminando a JUFRA por todo o Brasil! Um poeta latino-americano profetizou um dia, dizendo: “O romeiro só tinha três coisas para a viagem: os olhos abertos para o horizonte, os ouvidos atentos e o passo ligeiro”.

Enfim, são sim 40 anos percorridos pela JUFRA do Brasil. Caminhada longa, árdua, de tropeços e levantes, mas caminhada que não para! Um romeiro da terra, caminheiro por excelência, certa vez disse que: “Os pés dos romeiros são como lápis. Nós pobres, somos de poucas letras, mas a gente também escreve com os pés. Só que pra ler essa escrita precisa de conhecer os chãos da vida e das estradas duras. E é preciso curtir o couro dos pés. Pezinhos de pele fina não deixam quase nada escrito nos caminhos da vida”.

40 anos caminhando! O Encontro foi bonito! A Festa foi grande! E a JUFRA do Brasil está pronta para uma grande tarefa! Uma grande missão! A evangélica missão de construir o Reino nos caminhos da História! Pois “(...) as roupas que você usava não se gastaram, nem seu pé inchou durante esses quarenta anos. Portanto, reconheça em seu coração que Javé seu Deus educava você como o homem educa o próprio filho.” (Dt 8, 4-5)

Emanuelson Matias de Lima (Elson)
Sub Nac DHJUPIC da JUFRA do Brasil

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