A vida e a modernidade de Luís IX, o último rei santo

Jacques Le Goff, um dos maiores medievalistas europeus, nos diz que tendo vontade de escrever uma biografia, escolheu um personagem que desse possibilidade de, realmente, ir além da imagem mítica ou das suposições históricas. Assim, o eleito foi São Luís IX, um personagem fascinante, pois falar sobre ele é evocar todos os povos cristãos da época.

Luís IX foi ao mesmo tempo rei e santo. Houve outros reis santos antes dele, na Alta Idade Média, mas São Luís é um rei santo de um novo tipo, pois é sua conduta pessoal, em primeiro lugar, que o faz ser santo. Aliás, ele será o último desse gênero. O historiador William Jordan descreveu-o atormentado entre seu dever real e sua devoção.


Le Goff enfatiza a coerência entre sua aspiração à santidade e sua conduta na política, o que não oculta de maneira alguma dificuldades e contradições. Por exemplo, São Luís tendo um cerimonial real às refeições para respeitar, mas, muito ligado à tradição monástica, pratica a abstinência muito jovem, não bebe vinho puro, convida pobres, etc. Isso é verdade também para seu comportamento político.


Luís IX foi, inicialmente, um rei criança – aos 12 anos. Ora, a criança na Idade Média, século XIII, não era levada em conta: um rei menor, era um enorme inconveniente. Citava-se o Eclesiástico: “Infeliz a cidade cujo príncipe é uma criança ”! O rei criança é incapaz de se defender nas questões terrestres e de ser um intermediário aceitável diante de Deus.

São Luís tornou o rei o responsável pela Justiça. Os súditos podiam apelar para a justiça do rei. Aí está o fundamento dos futuros tribunais de apelação. A partir de 1254, essa seção da corte, que administra a Justiça em seu nome, passou a ser denominada Parlamento.

Luís IX, profundamente cristão, não gostava dos judeus, que se recusaram a reconhecer o Cristo. Ele condena o Talmude, porque este, do seu ponto de vista, diz horrores sobre Jesus e apresenta a Virgem como uma prostituta! É verdade que São Luís ficou desorientado com esse problema. Segundo disse: “Os cristãos têm um chefe, trata-se do prelado. Os judeus não têm ninguém; devo, então, ser o prelado dos judeus: puni-los quando se comportam mal, mas também protegê-los quando são injustamente atacados...”


Ele foi um incentivador das últimas Cruzadas! Tentou mudar o espírito da Cruzada, misturando objetivos militares e interesse de conversão religiosa.


Francisco de Assis não o precedeu, em vão, na Terra Santa! São Luís, partindo com todos os preconceitos antimulçumanos da época, ao perceber que aquelas pessoas eram religiosas, foi sacudido pela piedade delas, ficando atônito com a biblioteca que o emir carregava consigo em sua tenda, mesmo na guerra. Enfim, o indivíduo São Luís também foi procurar na Terra Santa, mais ou menos, o martírio.


O papa Bonifácio VIII o canonizou em 1297, 27 anos após sua morte. Os milagres ligados à sua pessoa contaram menos que as virtudes do indivíduo. Ele foi um modelo ideal de rei cristão. São Luís teve importância como homem. Seu caráter, sua humildade deram motivos para isso.

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