Festa das Chagas - 17 de setembro

Festa da Impressão das Chagas de São Francisco de Assis


“Ó São Francisco, estigmatizado do Monte Alverne, o mundo tem saudades de ti, qual imagem de Jesus crucificado. Tem necessidade do teu coração aberto para Deus e para o homem, dos teus pés descalços e feridos, das tuas mãos trespassadas e implorantes.” (Papa João Paulo II)

Caríssimos irmãos e irmãs da JUFRA do Brasil, Paz e Bem!

Neste dia 17, celebraremos a festa da Impressão das Chagas de São Francisco. É belo refletir na profundidade mística desta festa franciscana onde celebramos o dia em que Francisco chegou a um dos pontos mais altos de semelhança à Nosso Senhor Jesus Cristo; na realidade ele começa a se configurar ao Cristo desde que ele assume o seu projeto de vida, em São Damião onde ele afirma: É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que desejo viver de todo meu coração” ao ouvir o evangelho da festa de São Mathias.

Mas a vida de Francisco foi como a escalada de uma grande montanha, e é em uma montanha em que ele recebe os sinais da paixão, o nome dessa montanha é Alverne (La Verna), um monte que Francisco recebera de esmola de um conde de nome Orlando que lhe tinha muita admiração. Francisco gostava muito desse lugar para orar e nele fazia suas contemplações e passava suas quaresmas, pois Francisco celebrava duas quaresmas, uma em preparação para a festa da páscoa, e outra em preparação para a festa de São Miguel Arcanjo que começava na festa da assunção de Nossa Senhora e ia até a festa de São Miguel. E na celebração desta quaresma, no ano de 1224, Francisco estava sobre o Alverne acompanhado de Frei Leão. Eles se encontravam apenas para a oração do ofício das matinas que se faz pela manhã. Nesse período Francisco estava bastante debilitado por conta das duras penitências que fizera ao longo da vida, enxergava pouco, mas ainda assim persistia na luta contra as tentações e na busca de se aproximar de Deus, como um atleta que luta para chegar ao pódio. Em uma madrugada na Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), orando, Francisco pede a Deus: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que eu me faças antes de morrer: a primeira, que em vida eu sinta na minha alma e no meu corpo, quanto for possível, a dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão. A segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele amor sem medidas de que tu, Filho de Deus, estavas incendiado para suportar, por querer, tamanha paixão por nós pecadores”. Era manhã, ainda escura, e frei Leão se dirigia à cabana de Francisco para rezar as matinas e de repente ele se depara com uma grande, forte e brilhante luz e fica um pouco espantado, se esconde e aprecia, contempla Francisco ajoelhado com os braços abertos diante daquele ser que emanava tão bela luz, Francisco apenas balbucia: “ Senhor quem sois vós e quem sou eu, vós o Altíssimo Senhor dos céus e da terra, e eu um miserável verme, vosso ínfimo servo!” o ser iluminado era um crucificado, na forma de um Serafim, com seis asas, anjo da mais elevada hierarquia celestial. São considerados os Anjos mais honrados e mais dignos, os que mais amam, ou seja, aqueles que possuem uma maior e mais admirável capacidade de amar.

Na Sagrada Escritura os Anjos Serafins aparecem somente uma única vez, na visão de Isaias: "... vi o Senhor sentado sobre um trono alto e elevado... Acima dele, em pé, estavam Serafins, cada um com seis asas: com duas cobriam a face, com duas cobriam os pés e com duas voavam".(Is 6,1-2). E após esses minutos de contemplação Francisco recebe em sua carne, assim como Cristo os sinais da paixão do Senhor, as chagas nas mãos, nos pés e do lado.

Apenas a quem Francisco confirmou tudo do que havia sentido e que havia ocorrido foi à Frei Leão, que depois foi quem cuidara dos curativos e da limpeza dessas chagas que Francisco ainda carregou dois anos em vida. Pois o mesmo tinha todo cuidado em esconder as sagradas feridas e a dor que sentia nas mesmas.

Paul Sabatier, protestante e grande estudioso da história Franciscana vai dizer em sua “Vida de São Francisco” que “Essa montanha (o Alverne) foi, ao mesmo tempo, seu Tabor e seu Calvário...” isto é, o lugar da transfiguração e do sofrimento, sofrimento esse que Francisco traz com alegria carinho e benevolência por serem sinais da partilha da dor do amor de Deus por nós.

Hoje há pessoas e linhas de pensamentos que questionam se, de fato, Francisco recebeu em seu corpo as Chagas de Jesus Cristo como dizem os primeiros biógrafos, a maioria dos franciscanos acreditam, pois olhamos os estigmas com olhos da fé. E se tudo aconteceu da forma narrada pelos primeiros irmãos ou não, isso não é o mais importante para nós hoje, 800 anos depois da fundação da Ordem, porque Francisco se torna um dos seres que mais se assemelham ao Cristo, a ponto de ser chamado pela igreja “Alter Christus” (Outro Cristo), não por ter recebido no seu corpo as chagas de Cristo, mas por ter feito de sua vida uma constante busca de encarnar o evangelho de Jesus, e ter configurado seu espírito ao espírito de Deus. E essa é nossa busca como jovens franciscanos: nos tornarmos evangelho vivo, dia após dia, por meio da conversão que deve ser um esforço diário e contínuo! A devoção as Chagas de São Francisco no Brasil remonta ainda o tempo do Brasil Colonial; as antigas fraternidades da Ordem Terceira de São Francisco tinham por costume manterem grande veneração por este fato ocorrido na vida do Seráfico Pai, e é muito comum nas antigas igrejas Franciscanas se ver no altar principal a cena da estigmatização tendo São Francisco ajoelhado e Cristo Crucificado com seis asas.

Temos ainda como referência, provavelmente a mais forte a atual, a devoção dos nordestinos a São Francisco das Chagas do Canindé, no estado do Ceará. Este Santuário-Basílica, que tem o inicio de sua construção lá pelos anos de 1775 e hoje é grande alvo de peregrinações e forte sinal da presença franciscana e da devoção do povo brasileiro na pessoa de São Francisco de Assis que recebeu as chagas de Cristo e devotamente é chamado de São Francisco das Chagas, onde inclusive temos uma de nossas fraternidades. Muitas de nossas fraternidades da OFS e da JUFRA do Brasil têm por padroeiro São Francisco das Chagas ou as Chagas de São Francisco.

Então nesse dia 17 de setembro, vamos contemplar de uma forma toda especial esse Francisco, que assumiu o projeto de vida de Jesus Cristo em todas as suas dimensões e quis se assemelhar a ele a ponto de querer partilhar a dor que ele sentiu em seu corpo na paixão, e como franciscanos sermos também, pessoas que buscam se assemelhar ao Cristo buscando partilhar com o nosso próximo, as dores e as alegrias, as felicidades e as tristezas, e sermos assim testemunhas vivas da continuidade do evangelho e da construção da civilização do amor.

Abraço Fraterno a todos e Feliz dia das Chagas!

Alex Sandro Bastos Ferreira, OFS

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