CORPUS CHRISTI 2019

CLARA E A EUCARISTIA

Para compreendermos bem a relação de Clara com a Eucaristia é preciso olhar principalmente sua experiência anterior, pois determina essa conexão com o Senhor, tendo em vista que não escreveu nenhum tratado, nem fez uma descrição, mas há apenas esparsas informações na Legenda de Santa Clara, em seu Processo de canonização e algumas outras fontes.
Diante disso, o primeiro elemento a ser considerado é o fato de Clara ter assumido, da mesma maneira que Francisco, o Evangelho como fundamento de sua vida. “Observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade” (RSC 1,2) é a forma de vida de Clara e de suas irmãs. Isso significa que todo o seu comportamento, todo o seu agir é orientado pelo Evangelho. Portanto, sua fé e sua convicção de que de Jesus entregou-se a nós em forma de pão são sustentadas pela observância do Evangelho, que lhe possibilita conhecer o profundo amor de Cristo por nós, a ponto de entregar sua vida para estar conosco e assumir a condição frágil de pão para nos alimentar.
O segundo elemento da vivência de Clara de Assis, que define sua ligação com a Santa Eucaristia, é a visão que ela tinha de Cristo, a maneira como ela via o Senhor, como ela O conhecia. Para fazer essa experiência de conhecimento do Senhor, Clara usava três vias da oração: “olhe, considere, contemple” (2IN, 20). Usava, também, seu grande símbolo, o espelho, que significa Jesus Cristo. Ela classificou o espelho em três partes: princípio, meio e fim. No princípio do espelho, Clara prestava atenção à pobreza e à admirável humildade de Cristo no presépio. No meio do espelho, a santa considerava a humildade, a pobreza, as fadigas e as penas que Jesus suportou pela redenção da humanidade. E no fim desse espelho, ela contemplava a caridade inefável com que Cristo quis padecer na cruz e morrer da morte mais vergonhosa (cf.4IN 15-25).
A partir desse caminho, Santa Clara não só conheceu profundamente a Jesus Cristo, olhando, considerando e contemplando, mas espelhou-se nele e assumiu seu jeito de ser e de agir. Portanto, quando a santa tinha seu encontro com a Eucaristia, carregava consigo toda essa experiência. Então, o Jesus que ela via e se relacionava na Eucaristia não era um Jesus abstrato, mas o Jesus que ela encontrou no Evangelho, olhando, considerando e contemplando. Ela via seu espelho, com começo, meio e fim, no qual espelhava-se.
Por isso que, ao receber o sacramento do Corpo do Senhor, dona Clara tinha “grande devoção e tremor” e “ficava toda trêmula” (PC II,7) “e derramava muitas lágrimas” (PC III,7), pois ela tinha consciência da estupenda dádiva que estava recebendo. Após receber o Corpo do Senhor, ela louvava a Deus e dizia às irmãs: “Filhinhas minhas, louvem o Senhor, porque hoje Cristo dignou-se fazer-me tão grande benefício que céu e terra não bastariam para pagar” (LSC,42). Por essa razão, Clara diante do perigo iminente dos sarracenos atacarem o mosteiro, pediu para colocar diante dela a “caixinha onde estava o santo Sacramento do Corpo do Senhor Jesus Cristo” (PC IX,2) e confiantemente suplicou ao Senhor para guardar a todas daquele perigo, e obteve d’Ele a resposta de que a defenderia sempre. Clara sabe que o Sacramento Santo é aquele Jesus que assumiu a condição humana na pobreza e na humildade, se entregou, dando a vida para a salvação de todos e prometeu que estaria com seus até a consumação dos séculos.
A fé, a convicção, a confiança, e o amor que Clara de Assis tem na e pela Eucaristia são fundamentadas e solidificadas no Evangelho, na sua experiência construída na relação com esse Evangelho, por meio de suas vias de oração. É este o convite que Clara faz hoje para cada um, cada uma: “Olhe, considere, contemple” o espelho no seu princípio, no seu meio e no seu fim.

Antônio Bezerra, OFS – Frat. São Francisco de Assis, Natal/RN

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