A Criminalização da Pobreza

Refletir sobre a brutalidade da morte de Cláudia Ferreira da Silva assassinada e arrastada com um trapo pela viatura da polícia, nos revolta e faz pensar.

Em um artigo, no Blog Tijolaço, Fernando Brito indaga: “Quem mais matou Dona Cláudia?” Ele toca em uma crueldade cotidiana de nosso país, ao escrever:

“Sejamos honestos: seu brutal assassinato está chamando a atenção do país porque se filmou a queda de seu corpo do carro dos policiais e a cena dantesca de sua segunda morte. Porque a primeira morte de Cláudia foi ter sido baleada, essencialmente, por ser moradora de uma favela e negra. Se não era mãe de traficante – como a própria temia fossem confundidos seus filhos – era tia, amiga, prima, parente ou amiga deles. Devia ser: afinal era negra e favelada. E seus filhos deveriam ser, também eram negros e favelados. “Todo os dias, eles [ PMs] chegam atirando e depois vão ver quem é. Ela não deixava a gente ficar na rua com medo de acontecer alguma coisa ou de confundirem a gente com traficantes”. Como a Cláudia, seus filhos, milhares de Cláudias, Cláudios e Claudinhos.”

A criminalização da pobreza no Brasil é um processo histórico que se enraizou ideologicamente na cultura da sociedade brasileira desde o Brasil colônia. Ser pobre neste país, além significar uma realidade de inúmeras dificuldades para se viver com um mínimo de dignidade, ainda tem que carregar o estigma de criminoso, de vagabundo…
Nos bairro periféricos, nas favelas e nos cortiços nos centros das médias e grandes cidades, habitam os que participam diretamente do processo de produção. A acumulação da riqueza no Brasil se fez às custa do sangue e do suor de milhões de pobres, espoliados.

Segundo Vera Malaguti Batista, socióloga, doutora em Medicina Social pelo Instituto de Medicina Social (UERJ) e secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), para pensar o Brasil e o mundo de hoje temos que pensar que quem sustenta a economia do mundo são os países e os setores pobres e periféricos. Criminalizá-los é algo bastante lucrativo. “O capitalismo produz várias formas de criminalização: vigilância, perseguição de camelôs, do comércio varejista de drogas”. Em relação à pacificação, segundo Vera Malaguti, a palavra “pacificar” tem sentido genocida na sociedade brasileira. “As políticas de segurança pública transformam as favelas em campos de concentração, onde a gestão da vida cotidiana é policial. Primeiro chega a polícia, depois vêm os projetos sociais. Bem depois mesmo, porque o que vem primeiro é a light, a net, os bancos, os serviços privados, etc.”

A barbárie já não choca nem causa espanto aos olhos de muitos. Basta vermos quantos postam no facebook, a favor de atos de violência contra os pobres.  E como está se tornando comum atos como o que sofreu o jovem negro que foi espancado, teve a orelha cortada à faca, a roupa arrancada e foi preso pelo pescoço a um poste, nu, em plena via pública.
Por outro lado, a truculência policial está amparada por uma concepção de Estado autoritário herdado da ditadura militar, cujo uso da força para defender os interesses das classes dominantes sempre foi uma norma.

Subsecretaria Nacional de Direitos Humanos, Justiça, Paz e Integridade da Criação

Comentários

CAROL JUFRA FAPS disse…
MUITO BOM ESTE ASSUNTO,UM TEMA BOM PARA TRABALHAR NA FRATERNIDADE.

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